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sábado, 28 de junho de 2014

POEMA DA BEIRA MAR

Vivo o quotidiano na incerteza
dos meus  abismos sobre o mar azul
barricado em castelos sem ameias
e trincheiras destruidas
na evasão da esperança

em  manhãs de amanhãs que foram ontens
procuro sem método os limites  vazios
no que não tem limites
para entender o que já não entendo
pelas vias normais

e não entenderei os meus papeis
por muito que mastigue as teclas recentes
para lá das minhas fontes 
e das premonições que se debatem
de consciência em vão

no fim do pensamento tudo será como antes
regressarei ao ventre maternal
dum himen rasgado na puberdade do ser
para manter a vida como é
nos compêndios do homem

sem telefone e vias de comunicação
reduzirei o mito a muito pouco
e ao ler o jornal do  outro dia  já não encontrarei
memórias da minha fortuna
em tempo algum

entre cinzas dos dedos tudo se despenhará
pelo universo
legalizada que seja a estatística civica
o aparato estupido da lei
e o sumiço num deus do sucedido









segunda-feira, 23 de junho de 2014

LUGAR VAGO

Com o meu net book japonês na mão
descrevo o petroleiro sem nação de Angola
o porta contendores oriundo de Xangai
e os pombos genuinos de Camogli
sobrevoando as telhas

na praia há seixos grossos
e nela cresce o mundo  ensarilhado
sem limites e  fronteiras
quer observe de João Pessoa
ou das dunas de Mira ao Canidelo

propriamente poderia ser filho de ninguém
ou filho de mim mesmo
de pai de mãe sem identificação
preso no absurdo dos dias
onde correm as horas insignificantes
do tempo absurdo
que não tem existência própria.

domingo, 22 de junho de 2014

CHEGADA

O dia cresceu como crescem os dias
de duvidoso  fim
quando descemos em Ório acompanhados
pelas portas  do autocarro  que cumpriu
horários do meio dia
em cada meia hora

a cadeia alpina não se moveu nos gonsos
que a nave provocou
e o que faz por aqui um pedaço de corpo
mordido por  insectos sociais
é a incógnita que se coloca
na pertinência do tempo

a auto estrada finalmente
verga-se ao dominio do trânsito e segue
na cultura amanhã de capital
encimada no Duomo
uma borrasca de multidões diversas
facetadas por moedas  será
a livre circulação
a sucumbir no grito aflitivo de quem chama
por um cartucho de disparates...


domingo, 8 de junho de 2014

RIO

O rio corre apertado em meandros
nas margens verdejantes do jardim
quando sigo com ele conjugando
aparente harmonia de percursos
sóbrios e paralelos

sobreponho-me á sua pequenez
sobre pontes de lenho
desliza de soslaio convencido
do plano do olhar tão relaxado
que depois salta e segue

suporta estrada  o tramway a gente
ciclistas e jovens de patins
para acabar caído no sub solo urbano
da Liseberg station
ou no canal das três torres gigantes

levo o seu curso a pé desde a nascente
numa tarde de sol
deambulando como ele ausente
em todo o arvoredo adjacente
em passo a passo como um caracol.






POSEIDON

Nu , corpo de bronze conspurcado de azebre
na praça principal está Poseidon
feio pode dizer-se como os deuses
envolvido pelas águas artificio
bombeadas do rio

voam da tina  peixes entre  jactos
como demónios vomitando fogo
e observa o divino  sem recato
os festejos e as  manifestações
erguendo em si o sexo, insensato
rodeado do par dos seus  melões

sábado, 7 de junho de 2014

SEGURANÇA

Fiz o cheque in  da segurança activa
e abriram a mala porque levava um queijo
do cinto das calças fizeram uma bomba de hidrogénio
da mesma  cor azul se rebentasse
talvez o mundo acabasse

a massagista massajou todo o corpo
e tirei os sapatos para caminhar no piso
cheirou o meu  nariz  a máquina passaporte
estava muitos graus antes da morte
foi seu diagnóstico preciso

passei segunda vez  na tranca levantada
o bip bip calou não disse nada
e fui vestir-me  junto duma senhora
cheirando a chumbo de arma caçadora
que endireitou o peito aliviada e disse não foi nada

reapertei o cinto compus o intestino
apalpei a madame sem querer atrás no olho
ela piscou piscou era zarolho
e assim passei o  teste do chek-in'o'
sentando-me a aguardar
na porta do destino.












TÁXI

Um raio de fotões incide nas sete horas
do relógio de pulso
e a  árvore do jardim agita os ramos
que vejo ao acordar sem o despertador
piso o botão para o silenciar

quando o táxi chega pontualmente
aguarda ali presente
enquanto apanho a mala limitada
a dez quilos de peso bruto
e corro  rente ao prado percorrendo a distância

o taxista que abre a mala onde me arruma a mala
segue sem palavras para o city airport
com os fotões seguindo pelos vidros das janelas
são quatrocentas coroas
mas hoje á noite já vou dormir a  casa


quinta-feira, 5 de junho de 2014

TARDE

A água é um silêncio absoluto no lago que se afasta
marginado por folhas de nenufar nuvens e  azul
ouve-se quem mergulha num chapino
e uma onda após descarrega no funcho
e outra outra e outra tão tardia
que por si passa a ilusão do dia

três corvos berram rasando a superficie
e manejam as asas com vigor
e retorna o silèncio absoluto
tudo retoma o silêncio  anterior
sem qualquer onda a embalar o funcho
sem sapo  no grasnar chamando amor

há  num salgueiro grosso uma lista de nomes
devorados pelo tempo no seu tronco
alguns já  não legiveis outros vivos
e um coracão recente amargurado
parece  palpitar restos vazios
de qualquer companheira ou companheiro.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

TORPS

Perdi-me no silêncio das bétulas
sob as cupulas verdes absorvidas
em trocas de energia...
não se mexia vento  nem o ar
um risco mais e duas lebres pardas
tascando ervas

faco-me um tronco branco
em dois tracos e espátula
lagos e penedias e um corvo grasnando
no humus negro agitado pela vida
eu próprio anacoreta na paisagem

tropeco em veias onde piso o chão
expondo um desafio à danca
no espelho de àgua claro
nova  sala de baile
que a natureza envolve abraca aplaude

abaixo das copas  tu cá tu lá com o sol
há alguma paz pela serenidade
mas quando a neve vier
a espalhar nos campos uma colcha de linho
vamos dormir com ela  uma outra noite
e um sonho de Verão.


TEMPOS

Caminho é rápido e a vereda estreita
e eu, navegador de sóis passados
aperto-me no mundo , mala feita
observando tempos adiados

sofro enfartes mentais no bosque em frente
e viajo pelas ruas da cidade
mudo, porque não falo este presente
cego porque é escassa a liberdade

e se  falar alguém me diz , maluco,
riso través sentir desconfiado
porque razão , eu sei, não amachuco

pois tenho idade para sorrir calado
vou tomar um café tomar-lhe o suco
e a olhar me perco ali sentado.

domingo, 1 de junho de 2014

VOU NO COMBOIO DE OSLO

Quando eu voltar vou no comboio de Oslo
que rasga  florestas e o mar
vou regressar  à gare do meu país
praticamente pronto
para qualquer partida

já nem sou cais eu próprio onde me espero
do porto antico ao gota ou aos canais
do tejo ou do mondego  ou do cacheu
ao geba ou ao adige
enquanto fora avanca a manifestacão

por estar aqui  sou peca de museu
a ler o El Pais o Figaro e o Publico
com dois  dias de atrazo manifesto
e os manifestantes coloridos gritam
pela insurreicão da própria natureza

mas vou voltar espero
vou no comboio de Oslo que rasga florestas
que rasga o mar  as portas
para regressar à gare do meu país quintal
que fica  algures a sul
num cais