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quinta-feira, 29 de maio de 2014

CÓDIGO

O número um me trouxe deslizando
talvez o cinco a deslizar me leve
quando voltar a casa
se o ar mudar de rumo o frio venha
antes do tempo certo

ou o  mundo de gente aqui aborrecer
as explosões solares  e deslizar
embora eu seja só
e só tenha dois gatos
preocupados com a minha ausência
por presumida falta de assistência

gigante é o falatório no jardim
ninguém se cala enquanto hirto escuto
de outros só vejo expressöes faciais
os lábios a vibrar as mãos  os gestos
até o coracão que  ás vezes se adivinha
tal como o prémio numa raspadinha

parece que só eu silencioso
no meu pequeno livro aponto
aponto e leio  os meus apontamentos
a bem dizer instantes pensamentos
na minha lingua mãe
o código que é meu e aqui me tem.

BOTANISKA

O sol faz-se descer de si na tarde
aos corpos estendidos
nos verdes alongados de erva nova
do Botaniska ao limite do bosque
por onde  vasam  ribeiros de inverno
os cursos por gastar

cedo a neve virá cobrir  a memória dos dias
o quarteirão das bétulas
o quadro das magnólias japonesas
estirpes de chorões rasando o solo
o jardim

desde o banco corrido do café
tenho os meus olhos presos
nos garotos que correm sem parar
os pais dormem no chäo
as mães  provam as turfas tentadoras
trazidas dos vitrais

é o que faz a tarde o sol a sombra
o mês de Maio
o cozinheiro e a entrada livre
no  fresco Botaniska
numa tarde como hoje quarta feira
no burgo velho do Gota Gothenborg.






ROSENKAFEET

Com um chapéu ao vento o chapéu voa
na esplanada do Rosekafeet
e as senhoras comem doce de mirtilo
e de bagas selvagens
nas conversas travadas entre elas

raparigas sentadas nos rapazes
namoram  entre os beijos
e novas mães que empurram os bébés
juntam carrinhos no estacionamento
dentro do roseiral

não fosse o sol porém estar sobre as mesas
retorcidas em chapa e em metal
teriamos de apanhar o tramway das cinco
e ir para casa resguardar o corpo
do frio que abateu o  mês de Maio

e no entanto as flores novas vaidosas
mostram às aves divertidas
o apelo sensual da juventude
elas voam em bandos
e  descem a duvidar de tanto poiso
no  parque de Föreningen

quarta-feira, 28 de maio de 2014

STYRSO

No mar de rochas do barco de Styirso
fiz-me ao mar das paragens por achar
e nada foi mais novo que  o regresso
de àguas que me são  estranhas
sem areias e ondas   por rolar

o vento sim o vento me levou
mais o homem do leme
ao aroma selvagem dos lilazes
ás betulas da beira dos caminhos
ás enseadas e ilhas do meu mapa

mas não há caravelas nem a sina
das tragédias  de eterno naufragar
o mar é calmo num  ardil fechado
cantam sereias acordes sem fado
é ao inferno que eu quero voltar.

domingo, 25 de maio de 2014

UMA CASA EM ÄTTEHÖGSGATAN

Gostava  duma casa em Âttehögsgatan
com uma varanda voltada para sul
azálias amarelas e vermelhas
um gato para minha companhia

gostava duma casa em Ättehögsgatan
se pudesse nascer segunda vez
para receber a luz do sol em Maio
e colorir o teu vestido  curto

gostava duma casa em Ättehögsgatan
e na janela do  primeiro andar
receber o perfume dos lilazes
roxos e rosas no canto do jardim

gostava duma casa em Ättehögsgatan
ver os gansos selvagens  rumo  ao mar
voar com eles e desaparecer
desconhecendo  onde vão poisar.

sábado, 24 de maio de 2014

NO LAGO DE HARLANDAR

No lago grande de Harlandar
há um chilreio de banhos incrivel
que me faz recordar os tempos da piscina
e os dias da juventude
e das termas

tudo era feito de desejo e pressa
de ir a qualquer lado que  talvez existisse
e mergulhar na àgua gélida
que nascia no Verão
girava no moinho do chafariz
e mergulhava em duas cataratas

então esquecido
o mundo transversal
que o  grande lago de Harlander parece ter
o som irrompe do silêncio das bétulas
para se escutar o chapinar na àgua
ou o grito  do salto
do empurrão
dos pássaros que passam

no banco tosco que limita a estrada
escrevo num  livro aberto o passado
e reencontro-me às vezes dentro dele
num assomo de agora
um sonho
feito dos velhos troncos
a apodrecer no bosque de bétulas
centenas perfiladas
no lago grande de Harlandar

sexta-feira, 23 de maio de 2014

LILAZES EM QVIDINGSGATAN

Há flores dos lilazes na paragem do metro
brancas,roxas,rosadas
casando com erva verde dos carris
e do tramway que  chega
azul celeste
com o seu tilintar avisador

o perfume que emanam
espalha-se pela gare de Qvidingsgatan
durante o mês de Maio
e eu adoro fazer viagens pelas flores
aguardando no cais
a ver as raparigas esvoacando nas saias
curtas quando a neve abalou

as pegas e os corvos grasnam
desconfiados
debicando a Primavera
e os ciclistas dedilham a campainha
na orla da floresta
na faixa que lhes pertence
trrim trrim trrim

entäo  dos lilazes que saiem
das portas abertas que há no bosque
tomam  odor o próprio carro eléctrico
e seguimos viagem
galgando a erva verde
antes que a neve volte
no fim do curto Veräo primaveril.






quinta-feira, 22 de maio de 2014

DIA SEGUINTE

Passou em branco o dia
claro
como se o tempo fosse
uma folha de nada
apenas muito velha amarelecida
e da cor do salmao
numa viagem de autoestrada
ao mar sereno de Liungskile
e Torn

boa viagem foi o branco dia
raiando o sol a luz e o silêncio
nas florestas
no algar dos meus sonhos esquisitos
e de futuro apagado
duvidoso
e da intranquilidade pendente
dum simples ramo de rosas
encarnadas

quarta-feira, 21 de maio de 2014

SOU EU

Já não tens telefone para me dizeres sou eu
quebrou-se o fio condutor de histórias
relembro-o ás vezes  e do que aconteceu
há dois registos só , nossas memórias.

e não foi ontem não  foram-se os anos
e foi neles que a vida se alterou
no mergulhado estar entre os enganos
que o vento da loucura em ti soprou

esqueci-me no tempo do numero  sou eu
nada há de tão eterno  em tal enfermidade
acomodou-se o corpo a tudo o que esqueceu
e o que sobrou às particulas da idade

näo  existe maneira  de me dizeres então
sou eu pois francamente  não recebo chamadas
mandei desligar o telefone de casa
para comprar um hiphone onde aprendo inglês.










terça-feira, 20 de maio de 2014

SONHO

Tenho-me aqui neste país de norte
desnorteado o meu por bandoleiros
corro-me por palavras e pela sorte
por bosques e por mares dias inteiros

não busco a paz para quem viveu em guerra
em guerra há-de findar meu corpo andeiro
tenho as mãos encrespadas desta terra
livres de hipocrisia e de dinheiro

caminho o caminhar é  onde ponho
os calcanhares dos pés  inverno ou verão
compondo no real o que suponho

num baú resistente á ilusão
nada tenho a aprender, a vida é sonho
entre o que já sonhei e o que não